Aos bons
ouvidos, o tintilar das grossas e pesadas correntes de ferro são como uma
fanfarra. Ou seriam, caso houvessem
tais bons ouvidos, mas não, não há. Ninguém
pode ouvir, eles não se importam.
Estou em uma
jaula, não há calor em lugar algum e estou morto. Ou louco, não sei mais. Ainda
me debato inutilmente às vezes, grito por raiva, dor e qualquer outra coisa,
não é preciso necessariamente um motivo para gritar.
No entanto, em
verdade, perdi a voz e qualquer outro sentido não existe mais... Gritar ou se
debater... Eu não os faço, porque estou morto. Mas ainda existo por pensar.
Meu
pensamento, o único que pode me ferir e causar tormento, justo a parte que
odeio, não morreu. Meu cérebro, a razão, cansou-se de lutar e faleceu. Meu
coração, as emoções, foram assassinadas assim que meus pulsos foram atados. E
minha parte viva, virou o câncer, e é a autora da morte de todo o resto.
Sou um
prisioneiro de meu próprio castigo e não sei exatamente o porquê de estar sendo
castigado. O repúdio ao amor, talvez, tenha me levado a ser posto em cárcere.
Acorrentado,
enquanto observo tortuosamente, todos à minha frente se amarem.